sexta-feira, 22 de abril de 2011

Crônica Nerd #3: A Maior Viagem de Todos os Tempos - Parte 4/5


[Leia a Parte 3]

 Quando Túlio encontrou o chão daquela vez, logo olhou em volta, à procura do discursista, ou mesmo do tiranossauro, mas os únicos animais que encontrou com o olhar foram Marcele, Pablo e Ratini. Não pôde deixar de notar, no entanto, que ainda estavam na clareira de uma floresta, embora diferente da floresta anterior. Se perguntou se ainda estavam no período pré histórico. No entanto, reconheceu algumas árvores ao seu redor como árvores tipicamente tropicais, como alguns coqueiros e palmeiras. Levantando-se do chão, olhou para Pablo, que estava de joelhos, olhando para uma Marcele quase deitada no chão. Abriu a boca para falar, mas o som que ouviu, sem dúvida alguma, não saiu de sua boca. Embora os três amigos não tenham entendido uma só palavra, ouviram uma multidão gritando algo como:

 "Glória a Nhanderuvuçú!"

 Olhando em volta, Túlio, Marcele e Pablo, agora os três de pé, viram uma grande multidão de humanos se curvando e fazendo reverências em volta deles. Cada vez mais humanos se aproximavam e se uniam a esta reverência. No entanto, duas caracterísitcas que todos eles tinham em comum era a pele avermelhada e o fato de que todos estavam quase ou totalmente nus.

 "Índios" disse Túlio a seus amigos, que concordaram, exibindo uma expressão de espanto no rosto.

 Foi então que um índio alto, usando várias penas na cabeça e um colar de pedras grandes se aproximou deles, por entre a multidão e, com uma grande reverência, começou a falar:

 "Oh, grande Nhanderuvuçú, que se fez homem, e seus companheiros, Jaci e Anhangá, seus semelhantes, nós os adoramos e bendizemos e vivemos esperando por esta visita desde que nos foi anunciado". Túlio, Marcele e Pablo não entenderam nada, mas também não falaram nada, então o índio de aparência importante continuou: "Por amor à tua obra, oh, grande Nhanderuvuçú, nós te pedimos que nos abençoe e aceite esta singela homenagem a ti".

 Quando o índio terminou de falar, uma jovem indiazinha, aparentando ter no máximo dez anos, se aproximou, trêmula, com um arco de madeira e uma aljava cheia de flechas em suas mãos, tentando não cair com os instrumentos em suas mãos. Ficando de frente para Túlio, ela se abaixou e estendeu a arma e a aljava na direção de Túlio.

 "Acho que eles querem que você pegue" disse Pablo.

 Túlio, então, se aproximou da criança e pegou os utensílios, vestindo a aljava em seu ombro. O arco, ele reparou, era completamente feito a mão e possuía diversos entalhes na madeira. Era o arco mais bonito que ele já tinha visto. No entanto, os índios continuaram ali, parados, em reverência aos três. Túlio, sem saber ao certo o que fazer, posicionou uma flecha no arco e, com pontaria certeira, atirou em um coco que estava em uma das árvores.

 "Glória a Nhanderuvuçú" repetiu a multidão de índios. "Que seu nome seja louvado por toda a terra em gratidão às bênçãos que nos tem dado".

 "Desde quando você sabe atirar com arco?" perguntou Pablo, em seu ouvido.

 "Desde o pior acampamento de verão da minha vida" respondeu Túlio. "Meus pais me forçaram a me separar do computador. Eu tinha só doze anos, aqueles cruéis. Pelo menos aprendi alguma coisa".

 Os índios, então se levantaram e começaram a dançar. O homem de aparência importante se aproximou ainda mais deles e disse:

 "Oh, grandes Nhanderuvuçú, Jaci e Anhangá, não sou digno de olhar para vós mesmo em forma humana, mas quero convida-los para participar da festa que daremos em vossa homenagem".

 Infelizmente, os três amigos continuaram sem entender nada. Túlio desejou ter um trio de peixes babel no bolso, mas lembrou-se que ninguém jamais encontrou nenhum exemplar na Terra.

 "Algum de vocês fala essa língua?" perguntou Túlio, olhando de Marcele para Pablo, mas os dois estavam balançando negativamente a cabeça.

 O índio de aparência importante, na verdade o cacique da tribo, começou a pensar coisas como a importância daquele acontecimento, o fato de como ele tinha sorte por ser o cacique exatamente no dia em que o povo celeste resolveu fazer uma visita a eles, como o resto do mundo pareceu escurecer diante da luz que precedeu sua chegada, como Anhangá parecia diferente do que ele imaginava, mas o fato de ele estar com um pequeno animal nas mãos só poderia representar seu poder sobre eles, como os aparatos que eles usavam eram estranhos, bem como suas peles multicoloridas, e como a língua celestial era bonita, apesar de sua total incapacidade de entender qualquer palavra que eles diziam. Neste instante, ele começou a se perguntar por que eles não se comunicavam em sua própria língua, como sempre fizeram nos contos, fábulas e sonhos.

 Enquanto isso, Túlio tentava decidir o que seria a coisa sensata a se fazer, visto que era pouco provável que eles conseguissem estabelecer uma boa comunicação verbal, Pablo tentava decidir se era sensato simplesmente puxar novamente a alavanca do Raio Temporal de Túlio e se mandar dali, e Marcele tentava decidir o que faria Aoi Karin, do anime DNA², se ela estivesse naquela situação. Ratini, por sua vez, pensava, com seu cérebro de rato, que todos aqueles humanos eram idiotas e que tudo o que ele queria era voltar para sua gaiolinha, onde ele teria um ataque de nervos se ninguém lhe desse comida.

 Passou-se algum tempo de silêncio, onde o cacique continuou ali, reverenciado seus supostos deuses, os três amigos permaneceram perdidos em seus pensamentos, e uma grande festa indígena acontecia ao redor. Finalmente, Marcele decidiu que a Karin tentaria voltar para seu tempo, já que, afinal de contas, a máquina do tempo a tinha levado para a época errada e claramente precisava de ajustes. Olhou para Pablo para se certificar de que o colar continuasse preso em sua mão, junto com Ratini, e foi na direção do Raio Temporal.

 "Maru-Chan, o que você tá fazen..." começou Túlio, mas foi simplesmente interrompido quando o vórtice começou a suga-lo novamente. O cacique, apavorado, saiu correndo na direção contrária. Não pôde deixar de se entristecer quando reparou que, no final das contas, os deuses não aceitaram participar da festa.

[Leia a Parte 5]

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