sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Crônica Nerd #9: Noite Sangrenta - Parte 2/4


[Leia a Parte 1]


 Acordei particularmente bem disposto naquela tarde. O tempo me ensinou que a melhor maneira de combater uma criatura é aprender seus hábitos, e segui-los à risca. Certa vez demorei um pouco mais para acordar e, quando finalmente o fiz, já eram quase nove da noite e eu não estava na minha cama. Os cretinos tinham me seguido na noite anterior e acharam que seria uma boa ideia me levar para um joguinho. Eles só se esqueceram de verificar se eu estava armado: a adaga que eu guardo no meu coldre de tornozelo nunca ficou tão ensopada de sangue vampírico. 

 Desde aquela noite decidi adotar um estilo um pouco mais nômade, me mudando pelo menos uma vez a cada dois meses, saindo de casa sempre antes do anoitecer e voltando para ela sempre depois do amanhecer. No início isso dificultou um pouco meus contatos com a Inquisição, mas a era dos computadores logo surgiu, trazendo consigo Alucard, meu notebook.

 Foi exatamente o que eu fiz naquela tarde. Rumei até uma cafeteria próxima à minha casa atual com Alucard na mochila. Fica mais difícil correr com uma mochila pesada nas costas, mas eu quase nunca sou pego desprevenido. Minha rotina diária consiste em, basicamente, passar numa cafeteria, tomar um capuccino enquanto verifico as novas oportunidades no site da Inquisição local, guardar minha mochila em uma igreja afiliada e partir para a caçada. Isso poderia se repetir algumas vezes no decorrer da noite, e eu também precisava me alimentar, mas sempre procurava lugares diferentes a cada acesso. Ainda noutra noite descobri uma rede de lanchonetes 24 horas que oferece meu prato preferido: sanduíche de almôndegas. Nunca mais eu tive que procurar refeição numa igreja. Depois que a noite ia embora, sobrava algum tempo para minha vida pessoal, durante o qual eu gostava de atirar em outras criaturas no computador, como zumbis ou demônios. Alguém poderia dizer que meu hobby não é muito diferente do meu trabalho, mas acredite: zumbis e demônios geralmente não são dotados de presas retráteis.

 Mas, naquela noite, antes mesmo que eu pudesse acessar o site da Inquisição, meu notificador de e-mails exibiu uma mensagem dizendo que eu tinha um novo e-mail não lido. Decidi abrir minha caixa de entrada para lê-lo.

 “Romero”, dizia a mensagem, “Encontramos o quartel general vampírico de Megalópolis. Estamos convocando todos os caçadores da região e vamos invadi-lo às cinco e meia da tarde. É um trabalho por fora, então não espere que a Inquisição nos remunere, mas será uma boa oportunidade para nos livrarmos dos sanguessugas. Se tiver interesse, encontre-nos no campo de futebol da Várzea às cinco e quinze”.

 Apenas isso. Não tinha nenhuma assinatura e o remetente não estava na minha lista de contatos. Olhei no relógio: eram cinco e vinte agora. O bairro da Várzea ficava a aproximadamente dez minutos de carro, mas eu não possuía um desde que os malditos vampiros me viram dentro do meu Golf. Quando levantei na tarde seguinte, a polícia e o corpo de bombeiros estavam terminando de remover os destroços.

 O jeito seria pegar um ônibus. Mesmo que eu chegasse atrasado, poderia seguir o cheiro de alho característico de uma aglomeração de caçadores. Por sorte, havia uma pequena igreja católica afiliada à Inquisição quase exatamente em frente à cafeteria que escolhi hoje. Deixei minha mochila por lá e, quando estava saindo, avistei o ônibus para a Várzea. Depois de uma breve corrida, entrei no ônibus e, pouco mais de dez minutos depois, cheguei no campo de futebol.

 Já estava começando a escurecer, mas consegui sentir o cheiro de alho que meus companheiros caçadores deixaram para trás. Segui-o até o velho galpão abandonado. Diversas empresas já tinham tentado se estabelecer por ali, mas os negócios nunca davam certo e o lugar ganhou fama de amaldiçoado. Bem, se era o quartel general vampírico da cidade, ele fazia jus.

 Entrei no beco aonde o cheiro de alho culminava e descobri uma porta entreaberta: a porta dos fundos. Estava realmente escuro por ali, mas entrei assim mesmo. Uma caçada como aquelas não poderia me intimidar.

 É claro que eu não contava com o desgraçado que estava me esperando atrás da porta com um bastão de beisebol.



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